EGBERTO GISMONTI

A descoberta da música

Dizem que definimos a nossa personalidade através da nossa curiosidade musical que emerge com força nos primeiros anos da adolescência. Como se a música pudesse traçar o caminho em direção a nossa verdadeira persona. Hoje em dia talvez seja um pouco diferente com o stream, mas no passado, antes de traçar este caminho era necessário se libertar (ou não) da música que se ouvia dentro de casa. Da coleção de vinil dos seus pais, do ruído do radinho de pilha que vinha da cozinha ou do som vindo do quarto do seu irmão mais velho…

Lembro de ter migrado das melodias embaladas nas rádios AM/FM da minha mãe para o mais puro rock and roll que rolava na casa dos vizinhos. Aquele som poderoso foi me conquistando e seduzindo e precocemente percebi ali que o meu destino já estava traçado. Deveria ser o mais anarquista, fora de padrão, questionador, ousado e diferente quanto o rock and roll me permitiria ser.

Porem, por conta do meu coração pisciano, sempre estive aberto e curioso em relação ao universo musical dos outros. Esta curiosidade me levou do rock clássico para o rock progressivo, onde suas longas instrumentações me prepararam para as sensações da música clássica, que por sua vez me apresentou a beleza do violão clássico, que por sua vez me levou ao choro e a MPB, que depois me apresentou ao melhor samba que tinha um pé na Africa e por aí vai… novos horizontes se abririam a minha frente.

Os artistas que integram os diferentes universos musicais foram responsáveis por facilitar o engajamento e a compreensão daquela nova música, tão diferente ao que eu estava acostumado. E um dos artistas que mais me influenciou na descoberta desta nova música foi Egberto Gismonti.

A sua virtuose clássica, o seu conhecimento musical além do domínio de sua arte já reconhecida no mundo inteiro, faz de Egberto Gismonti um artista que não precisa de créditos ou apresentações. Ele é um dos artistas brasileiros mais respeitados e admirados no exterior e a sua obra é reconhecida e valorizada em muitos países. Talvez nem tanto aqui no Brasil. Por isso a Lapaloop se sente na obrigação de trazer a luz (para aqueles que ainda não conhecem) um pouco mais do seu trabalho.

Ouvir Egberto é dar uma pausa no fast-food musical que já domina as nossas mentes e ouvidos. É dar aquele break necessário para mergulhar fundo nas emoções que cada instrumento proporciona e imergir no delírio criativo e sensorial que a sua música propicia.

É deixar que o seu sentimento flutue pelos cenários rústicos do interior do Brasil, dos índios do Xingu, dos tambores da Africa ou da erudição europeia. É viajar pelo tempo, pelo mundo, pelo passado e pelo futuro. É permitir se conectar coma a essência mais pura do ser humano, com a historia da humanidade, com o elo comum que une a todos os homens, em cada canto do planeta, em cada período da nossa existência. É mergulhar dentro de nós mesmos e fazer as pazes com a vida, que apesar de louca ainda é bela e inspiradora como a música de Egberto.

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